A
última etapa da pesquisa servirá para comprovar a eficácia da vacina.
Do total de voluntários, dois terços receberão a vacina e um terço
receberá placebo.
Os
testes da terceira e última etapa da vacina contra a dengue, que já
vinham sendo feitos desde fevereiro com 1,2 mil voluntários recrutados
pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (USP), começaram a ser realizados também, nessa quinta-feira
(23), com 1,2 mil voluntários na Faculdade de Medicina de São José do
Rio Preto (Famerp), no interior paulista.
O
Hospital das Clínicas e a Famerp são dois dos 14 centros de estudo
credenciados pelo Instituto Butantã - que desenvolve a vacina -, onde
serão feitos os testes da terceira etapa do projeto. Esta fase envolverá
17 mil pessoas em 13 cidades, nas cinco regiões do país. Na próxima
semana, segundo o instituto, um centro em Manaus (AM) e outro em Boa
Vista (RO) também darão início aos trabalhos.
A
última etapa da pesquisa servirá para comprovar a eficácia da vacina.
Do total de voluntários, dois terços receberão a vacina e um terço
receberá placebo, que é uma substância com as mesmas características da
vacina, mas sem os vírus, ou seja, sem efeito. Ninguém - nem a equipe
médica e nem o voluntário - saberá quem vai receber a vacina e quem
receberá o placebo. O objetivo é descobrir, a partir dos exames do
material coletado desses voluntários, se quem tomou a vacina ficou
protegido e se quem tomou o placebo contraiu a doença.
Segundo
Jorge Kalil. diretor do Instituto Butantã, São José do Rio Preto é a
única cidade sem ser uma capital que participará desta etapa. “É o único
centro que não está em uma capital. [São José do] Rio Preto tem uma
medicina de muito boa qualidade e está em uma região onde é muito forte a
dengue. Então, é lugar bom para a gente testar [a vacina]”, disse
Kalil, em entrevista à Agência Brasil.
Em
São José do Rio Preto, a vacinação e o acompanhamento dos voluntários
pela Famerp são feitos em uma Unidade Básica de Saúde. As pessoas que
participarão do teste são voluntárias, saudáveis, que já tiveram ou não
dengue em algum momento da vida e que se enquadrem em três faixas
etárias: 2 a 6 anos, 7 a 17 e 18 a 59. Eles são acompanhados pela
equipe médica por um período de cinco anos para verificar quanto tempo
dura a proteção oferecida pela vacina.
“Essa
última etapa significa que, nos 14 centros, vamos vacinar 17 mil
pessoas em três faixas etárias. Vamos começar pelos adultos, depois os
adolescentes e, em seguida, as crianças. Vamos dar a vacina em um estudo
chamado de duplo cego aleatório, ou seja, nem a pessoa que administra
nem a que recebe sabe se está tomando a vacina ou o placebo. Vamos ver
os casos que vão ocorrer naturalmente de dengue. Há um comitê de
observação que sabe quem recebeu uma coisa ou outra [placebo ou vacina],
e que vai observar, por cálculos estatísticos, para mostrar se a vacina
protege e em que percentual. Esperamos que proteja entre 80% e 90%”,
acrescentou Kalil.
Segundo
ele, a última etapa de testes pode durar em torno de um ano. "Podemos
ter a resposta daqui a um ano, mas vamos acompanhar esses indivíduos por
cinco anos porque queremos saber como eles vão se comportando nesse
período: se ainda estarão protegidos contra a dengue e se haverá
necessidade de uma dose de reforço no futuro”, disse.
O
instituto estima que a vacina esteja disponível para registro até 2018.
“Essa vacina é importante para o mundo todo. Há 3 bilhões de pessoas no
mundo que têm risco de contrair a dengue e existem no Brasil, por ano,
mais de 3 milhões de casos da doença, com mortalidade relativamente
elevada”, acrescentou o diretor do instituto.
A vacina
A
vacina contra a dengue tem potencial para proteger contra quatro vírus
da doença com uma única dose. Ela é produzida com vírus vivos, mas
geneticamente enfraquecidos. Com os vírus vivos, a resposta imunológica é
maior, mas como eles estão atenuados, não há potencial para provocar a
doença.
Nas
etapas anteriores, a vacina foi testada em 900 pessoas: 600 na primeira
fase de testes clínicos, feita nos Estados Unidos, e 300 na segunda
etapa, realizada na cidade de São Paulo em parceria com a Faculdade de
Medicina da USP (por meio do Hospital das Clínicas e do Instituto da
Criança) e com o Instituto Adolfo Lutz.
Segundo
Kalil, as demais fases de testes demonstraram que a vacina tem se
comportado bem. “Se pegarmos todos os casos das outras fases, quando
olhamos o nível de anticorpos neutralizantes produzidos, ou seja, o
número de anticorpos que não deixam o vírus proliferar, vemos que ela
induziu uma resposta muito forte contra os quatro sorotipos. Além de
anticorpos, a vacina induz uma resposta celular, ou seja, a vacina
ensina linfócitos chamados T a se defenderem do vírus e isso é um
coadjuvante muito importante da resposta antiviral”, comentou.
Da Agência Brasil