domingo, 5 de dezembro de 2010

Opinião: Lula e Dilma devem a Ciro o que ele não pagou a Tasso

Li na internet que o deputado Ciro Gomes está fora da lista de nomes que vão formar o primeiro escalão do governo de Dilma Rousseff. Na mesma linha do noticiário nacional, li uma outra nota que diz que o irmão de Ciro, governador Cid Gomes, também não participou da reunião de governadores do PT e PSB do Nordeste, que estariam defendendo o nome de Fernando Bezerra, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, para ocupar o Ministério da Integração Nacional.
Não vamos questionar aqui o problema do talento nem de peso político para uma indicação dessa natureza. Mas pelas renúncias, humilhações, sacrifício e engajamento com que os Ferreira Gomes abraçaram a eleição da candidata do PT à presidência da República, não se pode conceber que Ciro seja apenas um grande esquecido na partilha dos cargos entre os aliados. Afinal, o Ceará foi o maior cabo eleitoral de Dilma no Nordeste. E a dupla Cid e Ciro, apostando nos dividendos do bolo da vitória, chegaram a crucificar o ex-amigo Tasso Jereissati, que não voltou ao Senado Federal.
Tasso foi trocado por nomes menos expressivos, em matéria de peso nacional, na eleição para o Senado, porque os Ferreira Gomes se dedicaram de corpo e alma à campanha para executar uma exigência do presidente Lula: impedir a reeleição dele. O próprio Lula disse pela propaganda eleitoral no rádio e na televisão, para quem quisesse ouvir, que não desejava para a sua sucessora, Dilma, a oposição que seu governo teve de enfrentar na Câmara Alta do País. E essa oposição teve entre outras vozes incisivas a do ex-governador cearense Tasso Jereissati.
Mesmo que tivessem, como fizeram, de atropelar todos os sentimentos de respeito próprio, ética e gratidão, Cid e Ciro cumpriram a missão a risca, impondo ao ex-amigo e correligionário a taça ácida da exclusão da vida política, pelo menos temporariamente. E cumpriram nos mínimos detalhes da frieza com que se articulam os crimes de encomenda. Atraíram a vítima para o ambiente e o momento certos para que ela não tivesse chances de defesa.
Ciro foi mais longe, fingindo candidatar-se por São Paulo, para surgir de surpresa como coordenador da reeleição do irmão Cid ao governo do Estado e da eleição de Dilma no Nordeste. Tasso, derrotado, não deve nada aos Ferreira Gomes. Eles é que lhe devem a gratidão, transformada em dívida que não se quita no banco da consciência. Mas Lula e Dilma devem tudo à sua dupla de camicases políticos. Por isso, é difícil acreditar que eles não sejam muito bem recompensados com cargos, prestígio e poder no governo do PT, pela missão fielmente cumprida.

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