sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

DESTINO INSANO




foto ilustrativa

Atrás do carro da coleta, os catadores aglomeravam-se, disputavam espaço com moscas e mosquitos, pelo retrovisor, vejo uma luta de sorrisos alegres em faces cadavéricas... Uma farra de abrolhar inveja ao mais rico rei egípcio.
Com um toque reviro o retrovisor para a direita, um rosto magro e sujo aparece estampado em um rosto banguela que cede espaço para um gole de coca-cola quente e choca, mãos sujas, ansiosas seguram um pedaço de pão seco e mofado.
Uma bofetada o faz ver a dura realidade, a figura fina de olhar esbugalhado, cai. Ali é lei do mais forte ou do mais faminto... O menino se levanta, um saco encoberto por moscas, atrai sua atenção,canelas esqueléticas correm,saracoteia e cabriola tal qual um bale mal ensaiado.
Com um pedaço de pau expulsa as moscas, um cheiro acre de carne em putrefação me chega às narinas quando a mesma é retirada do saco e colocada em uma caixa de papelão é como se fosse um andor coloca em seus ombros e se afasta da chusma.
Um olhar puro e meigo deixa cair uma lagrima de felicidade. Do calção encardido que mal encobre a bunda magra, pendura uma sacola atada com embiras, dentro dela um pedaço de melancia passada, que servira de sobremesa... Ansioso para logo chegar a seu lar, seu coração salta agradecendo ao Criador, pelo dia de sorte barrigas vazias o aguardam.
O menino volta um olhar ao lixão, pelo fortuito obtido. Ele não sabe o que é progresso. Muito menos aterro sanitário!!!
O destino insano, logo, logo, vai lhe pregar uma peça, o lixo que tantas vezes lhes enterrou a fome e os desenganos, será enterrado.
PS - Fato presenciado por mim quando trabalhava como fiscal na coleta de lixo em minha cidade
Elcio Aragão15/05/01

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