Progressos em pesquisas e financiamento do tratamento foram os
principais temas do evento bianual. Início imediato do uso de
antirretrovirais pode garantir mais qualidade de vida e economia no
tratamento da doença.
A Conferência Internacional sobre a Aids
terminou na sexta-feira (27/7) com otimismo quanto aos progressos
alcançados para a descoberta de uma cura, mas também com preocupação
sobre financiamento adequado para o tratamento dos cerca de 34 milhões
de soropositivos no mundo.
Para os conferencistas, garantir
acesso ao tratamento continua sendo a chave para travar o avanço da
epidemia, haja vista que ainda serão necessários alguns anos de pesquisa
até que se chegue à cura.
Os organizadores do evento bienal revelaram que novas pesquisas
podem resultar, em breve, em uma nova terapia com antirretrovirais. O
anúncio ocorreu em meio aos apelos de ativistas para que se amplie o
acesso dos medicamentos à população infectada.
A ganhadora do prêmio nobel de medicina Françoise Barre-Sinoussi
disse ser "inaceitável" que tratamentos cientificamente comprovados e
ferramentas de prevenção ainda não estejam ao alcance das pessoas que
mais precisam. Barre-Sinoussi foi uma das descobridoras do vírus HIV e é
a nova presidente da Sociedade Internacional da Aids.
Avanços
A conferência contou com 24 mil delegados de 83 países, e foi
realizada nos Estados Unidos pela primeira vez em 20 anos. Uma das
novidades foi o resultado de uma pesquisa realizada com pacientes
franceses que começaram a ser tratados com antirretrovirais
imediatamente após a infecção pelo HIV.
Passados seis anos, os pacientes interromperam o tratamento e não
foi verificado aumento na carga viral. Conforme o estudo, as células
destes soropositivos apresentam níveis de HIV similares ao de grupos
controlados com antirretrovirais. O estudo é da Agência Nacional
Francesa de pesquisa contra a Aids e Hepatites Virais.
"Os resultados sugerem que o antirretroviral deve começar a ser
administrado imediatamente após a infecção", disse a diretora da
pesquisa Charline Bacchus, que apresentou os resultados.
Outra linha de pesquisa bem-sucedida envolveu o transplante de
células-tronco em dois pacientes que estavam sendo tratados contra
linfoma, um grave tipo de câncer nas células sanguíneas. O trabalho é
coordenado pelos pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard, Timothy
Henrich e Daniel Kuritzkes.
A pesquisa foi reforçada pelos resultados obtidos no tratamento
do norte-americano Timothy Brown contra leucemia. Ele teria recebido
células tronco de um doador com uma rara mutação que o tornou imune ao
HIV. Brown apareceu publicamente no início da semana para anunciar que
estava curado e aproveitar para levantar fundos para a pesquisa. Cerca
de 1% da população caucasiana do mundo teria esta imunidade.
Economia
O financiamento internacional para pesquisas e tratamento está
sendo afetado negativamente pela crise econômica global e pelas
preocupações com a transparência na gestão dos recursos. "Alguns
consultores internacionais recebem mais de 600 dólares por dia. Três
pessoas poderiam ser tratadas durante um ano inteiro com a mesma quantia
de dinheiro", disse o ex-presidente norte-americano Bill Clinton
durante a cerimônia de encerramento do evento. Clinton, cuja fundação é
engajada na luta contra Aids, pediu maior transparência no financiamento
e decisões baseadas em critérios científicos, não políticos.
Ampliar o acesso ao tratamento pode ser um investimento
inicialmente bastante caro, mas pesquisadores da universidade
norte-americana de Harvard disseram que pode poupar recursos. Segundo
divulgado na conferência, quanto mais cedo o soropositivo for tratado,
menor seriam os gastos no tratamento de doenças relacionadas à Aids. As
"doenças oportunistas" encarecem os custos do tratamento. A pesquisadora
Rochelle Walensky, da universidade de Harvard, explica que, com o
tempo, esse custo é superado pelos gastos com o tratamento de milhões de
pessoas ao longo de décadas.
Fonte: O Povo
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