No protesto, os cubanos foram chamados de "escravos" pelos médicos brasileiros, que também pediam a exigência de prova para revalidação de seus diplomas.
O secretário de gestão estratégica e participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, afirmou que o protesto "foi um ato de truculência, violência, agressividade, xenofobia, preconceito e racismo".
"Fomos um país de origem colonial e vivemos durante 400 anos uma sociedade escravocrata. Entendemos que o preconceito e o racismo de alguns é porque ainda eles têm saudade da casa grande e da senzala", afirmou.
Aguirre Talento/Folhapress | ||
Entidades médicas lendo desagravo aos médicos estrangeiros no auditório da Escola de Saúde Pública de Fortaleza |
O Conselho Estadual da Saúde divulgou uma nota, que teve apoio do representante do ministério, elogiando os cubanos e pedindo respeito aos estrangeiros. Monteiro afirmou que foi agredido por empurrões, tapas e um ovo, mas que os estrangeiros só foram agredidos verbalmente.
"Eles vieram ao Brasil como convidados, não se justifica nenhum ato como o que aconteceu ontem aqui", afirmou o secretário de Saúde do Ceará, Arruda Bastos.
O representante do Ministério da Saúde garantiu que as forças policiais brasileiras darão proteção aos médicos estrangeiros durante a estada no país.
O desagravo teve a participação de representantes do Conselho Municipal de Saúde de Fortaleza, Conselho Estadual de Saúde, prefeituras e da Câmara Municipal. Está prevista ainda uma manifestação de desagravo para as 18h de hoje, organizada por movimentos sociais favoráveis ao Mais Médicos.
Também teve apoio do Comitê Cearense Memória, Verdade e Justiça. "O sindicato transformou o juramento de Hipócrates no juramento da hipocrisia", afirmou Silvio Mota, coordenador do comitê.
Confira a íntegra da nota:
NOTA DE DESAGRAVO AOS MÉDICOS ESTRANGEIROS
Na última segunda-feira, 26 de agosto de 2013, na Escola de Saúde Pública do Ceará, assistimos, lamentavelmente, a uma demonstração de intolerância e xenofobia do Sindicato dos Médicos do Ceará e um grupo de 40 jovens médicos para com os médicos cubanos e outros estrangeiros, que vieram ao Brasil por espírito solidário e respondendo a um chamamento do governo brasileiro. Gritavam, a plenos pulmões, nas portas da ESP, num verdadeiro "corredor polonês", grosserias injustas e xenofóbicas: "escravos, escravos", "incompetentes, incompetentes", "voltem pra senzala" e outros impropérios.
Senhor presidente, para onde você caminha e leva os jovens médicos? E agora, José? José, para onde? Para a agressão física? "Escravos", José? Um povo valoroso que resiste a um boicote econômico há 54 anos da maior potência econômica do mundo, os Estados Unidos, e não se entrega, e não se curva? Um povo que jamais agrediu outros povos e, sim, oferece sempre a sua solidariedade e os seus médicos em situações de catástrofe, como no Haiti e em 69 países que pedem sua ajuda, sempre intermediada pela OMS? Cuba não tem riqueza, José. A sua riqueza é seu povo, são seus médicos, a sua solidariedade. Incompetentes, José? Os indicadores de saúde de Cuba se pareiam com os dos países mais desenvolvidos, a mortalidade infantil é menor que nos Estados Unidos e há 30 anos desenvolvem um Programa Saúde da Família que é exemplo para o mundo inteiro.
Fazemos um apelo a todas as entidades médicas para que respeitem os médicos cubanos e outros estrangeiros, que os acolham como merecem. Pratiquem a solidariedade latino-americana, como nos ensina José Martí, líder da unidade íbero-americana: "Cultivo uma rosa branca, em julho como em janeiro, para o amigo verdadeiro que estende sua mão franca. E para o mau que me arranca o coração com que vivo, cardo ou urtiga não cultivo: cultivo uma rosa branca".
Sejam bem-vindos médicos cubanos e todos os estrangeiros que aqui vieram prestar sua solidariedade e cuidar do nosso povo.
fonte:folha de são paulo
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