Com o título “Usar arma lhe daria mais segurança?”, eis
artigo do jornalista e sociólogo Demétrio Andrade. Ele aborda tema dos
mais polêmicos e lança uma reflexão para os leitores do Blog. Confira:
Moro num país violento e numa cidade insegura. O Mapa da Violência
2015 mostra que 42.416 pessoas morreram em 2012 vítimas de armas de fogo
no Brasil: 116 mortos por dia. Só estes dados já justificariam meu
temor em relação à discussão irresponsável travada no Congresso Nacional
– que tem hoje, sem dúvida, uma das piores legislaturas de sua história
–, que quer alterar o Estatuto do Desarmamento.
A proposta da chamada “Bancada da Bala”, intitulada Estatuto de
Controle de Armas de Fogo, reduz de 25 para 21 anos a idade mínima para o
porte de armas e assegura a todos os cidadãos, desde que cumpram
pré-requisitos legais, o direito de portar armas de fogo. Acaba também a
proibição de que pessoas que respondam a inquérito policial ou a
processo criminal adquiram armas.
É importante ressaltar que mesmo com as atuais restrições legais, é
fácil adquirir armas. Segundo o “Mapa do Tráfico Ilícito de Armas no
Brasil e o Ranking dos Estados no Controle de Armas Brasil”, o país tem
hoje 16 milhões de armas de fogo, sendo que 80% estão nas mãos de civis.
O argumento mais fajuto dos que querem liberar este comércio é de que
“a pessoa de bem precisa se armar para se defender da bandidagem”. Ora,
além de desresponsabilizar o Estado, tal situação colocaria o cidadão
na linha de fogo. E não somente contra criminosos. Pesquisa do Conselho
Nacional do Ministério Público, de 2012, elaborada a partir de
inquéritos policiais referentes a homicídios acontecidos em 2011 e 2012,
em 16 estados, apontou que as maiores causas de homicídios decorreram
de motivos fúteis, como “brigas, ciúmes, conflitos entre vizinhos,
desavenças, discussões, violências domésticas, desentendimentos no
trânsito”.
Como se vê, não é qualquer pessoa que tem habilidade de portar uma
arma de fogo. E o despreparo para lidar com situações-limite só
aumentaria a insegurança. O parâmetro mais contundente e que confirma
esta realidade vem de quem, teoricamente, é profissional do ramo. A
edição 2014 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que, em
apenas cinco anos, as polícias brasileiras – civil e militar – mataram
tanto quanto a americana em três décadas. Foram 11.197 mortes causadas
por policiais entre 2009 e 2013. Aliás, os policiais são vítimas
potenciais: no período de cinco anos, 1.770 foram mortos – 490 apenas no
ano passado. Ora, que segurança poderia lhe trazer uma arma se nem
policiais estão a salvo com elas?
Nos EUA, onde quase 90% da população possuem armas de fogo, cerca de
400 pessoas são mortas pela polícia a cada ano. Em compensação, no Reino
Unido, só dois policiais foram mortos em serviço nos últimos sete anos e
apenas três disparos foram efetuados entre maio de 2012 e abril 2013. A
polícia britânica usa artigos de menor potencial ofensivo. Somente
oficiais com treinamento específico usam armas de fogo, mas eles
representam apenas 5% do total da tropa.
Não sou especialista na área e nem tenho soluções para o problema.
Mas peço ao leitor que se informe antes de sair por aí replicando
sandices elaboradas por pessoas de má-fé. Partir do princípio de que é
preciso, se necessário, matar um semelhante para ter segurança, é
estigmatizar a paz como uma derrota. E somente uma cultura de paz pode
combater a violência.
*Demétrio Andrade,
Jornalista e sociólogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário