A decisão de Eduardo
Cunha de dar encaminhamento ao pedido de impeachment contra a presidente Dilma
é um ato gravíssimo que poderá mergulhar o País numa convulsão política e grave
crise institucional. Tratase de um ato de aventura e irresponsabilidade política, um ato de
chantagem consumada e de vingança. Nesse contexto, independentemente das razões
que possam ou não fundamentar tal pedido, o processo nasce contaminado pela
marca do golpe político.
Não é um ato que nasce
de uma decisão fundada no bom senso, na prudência que todo líder político deve
ter. Bastou o PT decidir que se posicionaria favoravelmente à continuidade do
processo de cassação de Cunha no Conselho de Ética para que o ato de vendeta
política fosse desencadeado, desnudando à luz do dia a chantagem que vinha
sendo urdida nos bastidores. O PT e o governo têm sua responsabilidade em tudo
isso, pois foram longe demais na aceitação dessa chantagem.
O problema agora se
coloca no seguinte terreno: qual será a conduta dos partidos, principalmente da
oposição, mediante o encaminhamento de um processo de impeachment de uma pessoa
sem legitimidade e de uma decisão movida pela chantagem e pela vingança?
Se esse encaminhamento
prosperar, abrirseá um grave precedente para o futuro do País e a própria
legitimidade democrática do processo político estará em risco. O sistema
político como um todo e a oposição em particular estarão colocando em jogo o
seu futuro político imediato e mediato.
Mas não é só isto: os
partidos e os líderes estarão colocando em jogo as suas histórias e as suas
biografias. Estarão colocando em jogo a sua dignidade em face de um ato de
aventura e de irresponsabilidade de um político que não tem nenhum escrúpulo.
Se a oposição não se pronunciar com urgência, o País terá pela frente meses
tormentosos. Meses de incerteza política e de agravamento da crise econômica e
social. Esse processo de impeachment, tal como foi encaminhado e dada a
gravidade de sua contaminação, tem tudo para provocar muitas perdas e nenhum
ganho.
Texto do professor Aldo Fornazieri, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo
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