Pesquisa
da consultoria Ponte Estratégia mostra que 82% dos brasileiros são
pessimistas com a situação econômica e 68% não apostam em melhora
futura.
As
incertezas com o cenário político e econômico do país têm minado as
esperanças dos brasileiros tanto em relação ao presente quanto ao
futuro. Essa é uma das principais conclusões que saltam de uma pesquisa
realizada em todo o país pela consultoria A Ponte Estratégia, à qual o
site de VEJA teve acesso. O levantamento, realizado com 915 pessoas de
todas as classes sociais, mostra que 82% dos entrevistados são
pessimistas com a situação atual e que 68% não acreditam que haverá
melhora nos próximos dois anos.
Com
menos renda e medo de perder o emprego, mais da metade dos consultados
admitem, por exemplo, ter barateado o plano de celular e cortado gastos
com alimentação fora de casa. Além disso, 88% dos entrevistados declaram
se sentir vulneráveis. "Os brasileiros reclamam que sentem na pele os
efeitos da deterioração econômica, com mais desemprego e menor poder de
compra", diz André Torretta, coordenador da pesquisa. O levantamento foi
feito entre os dias 10 e 15 de fevereiro com moradores de 250 cidades,
distribuídas nas cinco regiões do país.
A
deterioração do mercado de trabalho é uma das preocupações apontadas no
levantamento, com 68% dos entrevistados admitindo ter receio de perder o
emprego. "Eu me sinto vulnerável porque não sei se continuo a
trabalhar. Eu sei que a demissão vem, estou só esperando ela aparecer",
disse ao site de VEJA Carlos Taveiros, de 56 anos, que trabalha em um
banco de investimentos.
A
situação da estudante de direito Giuliana Rodrigues, de 20 anos, é mais
crítica. Ela está sem emprego há um mês, quando foi demitida do
escritório em que trabalhava como estagiária. "Fui mandada embora porque
a empresa estava cortando custos, então começaram da base", conta a
futura advogada.
Para
os próximos dois anos, 73% dos entrevistados esperam um aumento do
desemprego. O índice médio de desocupação ficou em 8,5% no ano passado,
segundo dados da Pnad Contínua, do Insituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). A percepção de piora declarada pelos entrevistados é
ancaroda nas estimativas de analistas. José Pastore, professor da
Faculdade de Economia da USP (FEA/USP), um dos maiores especialistas da
área no país, prevê um aumento da taxa de desocupação para até 11% este
ano e 13% no que vem, puxado pela queda do investimento.
Menos
TV e jantar fora - Para tentar proteger o poder de compra, os
entrevistados afirmaram que têm reduzido suas despesas com serviços. Das
pessoas que participaram da pesquisa. 70% dizem ter atualmente um plano
de celular mais barato que o anterior e 72% assumem ter reduzido gastos
com comidas fora de casa. Carlos Taveiros, por exemplo, conta que se
saía para comer duas vezes por semana. "Agora, só a cada 15 dias",
disse. Outra medida: economizar 200 reais por mês com a mudança no
pacote de televisão. "Eu tinha mais de 200 canais, mas cortei. Hoje
tenho TV aberta e gasto só 80 reais com internet", conta.
Ainda
segundo dados da Pnad, a renda média do brasileiro foi de 1.913 reais
no último trimestre de 2015, queda de 2% em comparação com o mesmo
período do ano anterior. Enquanto isso, a inflação não dá trégua:
alcançou 10,67% em 2015 e já acumula alta de 10,36% em 12 meses até
fevereiro. Diante de um cenário com menos dinheiro e mais inflação, 76%
dos pesquisados também declararam que piorou a capacidade de fazer uma
compra maior, como a de um carro ou uma casa.
"No
atual cenário, a cautela é predominante: a pessoa física não consome e o
empresário não investe. Temos uma questão histórica de grandes
empresários associados à demanda do setor público, que já não pode
gastar", diz Ricardo Macedo, coordenador adjunto da graduação em
Economia do Ibmec/RJ.
Para
minimizar o impacto da crise no bolso, o manobrista César Augusto, de
26 anos, trocou os supermercados mais conhecidos pelos atacados,
passando a fazer compras mensais e de produtos em quantidades maiores.
Além disso, deixou de comer o que queria. "Só temos comido frango e
carne de porco. Carne bovina aparece só de vez em quando", conta.
Outro
dado que chama a atenção na pesquisa é o que reforça a fragilidade dos
brasileiros diante do atual cenário politico e econômico. Dos
entrevistados, 88% dizem se sentir vulneráveis com a situação atual. "O
brasileiro viveu 15 anos de bonanças, aumentou seu poder de compra, mas
as conquistas estagnaram-se ou foram subtraídas com a deterioração
econômica", diz Torretta, organizador da pesquisa. "Hoje, a vida dele
não está totalmente ruim. Está melhor que a de seus pais. Mas ele já
começa a sentir, de forma prática, os efeitos dessa piora de cenário.
O
tal sentimento de vulnerabilidade também pode ser explicado pelo maior
medo das pessoas de que que a deterioração econômica alimente a
criminalidade. "Em uma ambiente de crise econômica, sem perspectiva de
reversão, a tendência é que as pessoas fiquem mais receosas de que haja
um aumento da violência, com roubos ou assaltos, por exemplo", diz
Macedo, do Ibmec.
Índice
de confiança - O cenário de pessimismo também é refletido pelo Índice
de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pela Fundação Getulio Vargas
(FGV). O indicador atingiu em dezembro do ano passado o menor valor da
história: 64,9 pontos. Depois disso, subiu em janeiro e fevereiro, mas
voltou a cair em março.
"As
perspectivas realmente não são favoráveis. Houve uma melhora por dois
meses, mas ela não deve se sustentar. O cenário deverá ser bem difícil
nos próximos meses", diz Viviane Seda, economista do Ibre/FGV,
responsável pelo ICC.
Fonte: veja.abril.com
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